Betty em Nova York – Beta, a feia em São Paulo

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Estava aqui assistindo ao seriado “Betty em Nova York”, na Netflix, e fiquei bastante tocada em escrever sobre o assunto, pois toda a humilhação que a personagem principal vive em seus primeiros dias de trabalho são semelhantes a várias situações que já vivi.

Nunca gostei de falar sobre isso, pois não consigo imaginar a repercussão que a internet pode dar para as minhas palavras.

Mas, ao ver o diálogo do segundo episódio da primeira temporada, recordei de um momento onde, assim como a personagem, minha vontade foi de chorar e ir embora da empresa.

Lembrar disso me fez pensar bem e decidi que preciso falar sobre isso!

Há uma década eu consegui um freela em uma revista dos sonhos. Sabe uma daquelas que a gente lia na escola quando era adolescente (pelo menos na minha época nós liamos)? Imagina a felicidade que senti em pisar naquela editora!

Mas a empolgação de quem me contratou por telefone – depois de ler textos de minha autoria e elogiado tanto a ponto de me dar UMA REVISTA INTEIRA para produzir – acabou quando ela viu a Beta, feia, entrando em sua sala (Beta, Bebeta e Betinha são meus apelidos).

A decepção não foi só dela. A editora assistente e as duas jornalistas também se incomodaram com a minha presença. Uma delas se negou a segurar a minha mão quando fomos apresentadas, não quis almoçar com a equipe durante toda a semana e fez piadas preconceituosas TODOS os dias que estive ali.

Foi um pesadelo. Mas, assim como a Betty do seriado, a Beta aqui não poderia simplesmente abandonar o trabalho e mandar todas elas para o (inferno) lugar que lhes é devido.

Assim, continuei meu trabalho que era pontual e fui embora para nunca mais voltar. Um alívio, uma dor e mais uma marca para a minha coleção de decepções.

Se você assistir o seriado verá a personagem Patrícia humilhando a coitada da Betty dizendo que algumas pessoas foram feitas para brilhar e outras para vê-las de baixo.

Eu, a Beta, a feia, ouvi no meio das piadas racistas que “quem nasceu pra ser gelatina, nunca vira mousse de chocolate”.

Juntei essa fala com a minha lista de limitações e passei a usá-la como mantra de vida. Eu era a gelatina. A gelatina que queria um emprego legal no meio dos mousses de chocolate. Mas eu jamais teria aquilo,  não nasci pra isso. Como realmente aconteceu.

Mas hoje,  pensando bem – e já imaginando o final da série (porque assisti todas as novelas da Betty que passaram na TV) – posso afirmar com toda a certeza que gelatina vira mousse sim. Faz parte da receita! Ela é que era burra e arrogante de mais para saber disso.

A aparência é importante sim. Somos julgados por ela a todo momento. Não tem a ver apenas com “padrões impostos”, mas também com a forma que o nosso cérebro trabalha e eu entendo isso…

Está tudo bem não ser a clone da Gisele Bündchen (as jornalistas da revista não eram nenhum padrãozinho para se sentiram tanto), mas não é legal humilhar as pessoas por isso.

No final do seriado a Betty vai ficar bonita e se casará com o bonitão, mas quem é mau-caráter não tem redenção. Nem na série,  nem na vida real.

Porque é fácil mudar a aparência e encontrar a sua melhor versão, mas é difícil se despir da maldade, da inveja, dos preconceitos e da necessidade de diminuir as pessoas.

Queria muito terminar esse texto com alguma reviravolta em minha história, mas, por enquanto,  sigo a minha vidinha de gelatina, porém em paz com a minha consciência.

Se um dia eu virar um belo mousse de chocolate,  vocês saberão. ( E se eu me casar com o bonitão vocês também saberão). Todo mundo merece um final feliz.

 


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