Ele era um menino comum, de uma família comum. Morador de um bairro sem nenhum glamour, onde as pessoas precisam se esforçar muito para conseguir o mínimo de dignidade necessária para sobreviver. Eu me lembro que quando criança ele era muito peralta. Daqueles que chutavam a bola no portão dos vizinhos, que brigava por pipas e bolinhas de gude.
Mas a maturidade chegou. Já não era mais um garotinho impossível, agora era um homem de 24 anos que lutava para sustentar sua mãe e irmãs. Estudava na Fatec, comemorava ter conseguido um emprego bom e fazia planos de se casar.
Coisas aparentemente simples para quem sempre teve de tudo. Mas aqui, esse tipo de atitude é raro. Geralmente o que ouvimos é que para superar a perda de pai e a falta de recursos financeiros muitas pessoas se envolvem com o crime e com drogas. Mas ele não. Ele conseguiu sozinho ficar longe dessas coisas.
Lembro que nos finais de semana ele costumava passar na minha rua para dar um oi para os amigos. Aquele grupinho de amigos de infância de quem a gente faz questão de não perder contato. Muita vezes eu chegava em casa e encontrava todos eles sentados na ponta da viela que liga uma rua à outra e dizia: Oi meninos!! Um jeito carinhoso de quem, que por mais que tenha quase a mesma idade, os viu crescer.
Mas agora o meu “oi meninos” vai ter um destinatário a menos, pois no último sábado, esse menino, chamado Felipe, foi assassinato. Mais uma vítima da intolerância. Ele estava em uma lanchonete com um amigo que se envolveu em uma discussão, sem saber que o rival estava armado. Ele não teve chances. Morreu ao defender esse amigo.
Fiquei pensando em quanto somos limitados. Não sabemos quando nem como vamos perder algum ente querido. Estamos acostumados a ver essas tragédias na TV e quando ela acontece perto, do lado ou na rua de trás, você para pra pensar… Fica triste e tenta imaginar quem pode ser o próximo…
Mas vivemos numa sociedade cada dia mais intolerante, mais violenta, mais injusta. Não importa quem seja, onde mora, quanto ganha. Qualquer um de nós podemos ser vítimas de situações como essa. Mais um inocente morto pelas mãos brutal de alguém sem caráter e sem alma.
Esperamos justiça!! Descance em paz, Felipe!!
“Sonho com o dia em que a justiça correrá como água e a retidão como um caudaloso rio.” (Martin Luther King.)