Como foi trabalhar seis anos no “maior portal de fake news”, segundo a Época

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Fui pega de surpresa como todo mundo que me conhece e me procurou para conversar assim que teve acesso à Revista Época Edição 1034 de 23 de abril de 2018. Como assim o Gospel Prime é o “maior portal de fake news do país”? De onde eles tiraram isso?

Resolvi deixar a raiva passar para então comentar sobre o caso. Trabalhei por seis ano no Gospel Prime, quando entrei ele não era nem de longe  a superpotência que é hoje. Gosto até de dizer que eu o tornei grande, até porque trabalhamos muito para isso.

Presenciei todo o crescimento do site e me alegrei com isso. Mas não quero falar de números, mas da forma como produzía as notícias, pois foi isso que foi colocado em check pela reportagem nada isenta sobre um site “conservador” e que nem sequer citou os sites que só difundem notícias inventadas e que ganham muito dinheiro de partidos políticos como já foi provado por denúncias e provas de extratos dessas transferências.

Escrevo também para que fique registrado que eu, como jornalista, jamais atuei em nome de interesses e que não recebi nenhum dinheiro a mais para publicar qualquer coisa que seja. Tenho minha consciência limpa de que desenvolvi um trabalho íntegro entre dezembro de 2011 e dezembro de 2016, tempo que prestei serviços para o site.

 

Como o Gospel Prime produz suas notícias?

Trabalhava principalmente com jornalismo declaratório. Até porque uma redação totalmente online com pessoas em diferentes cidades e uma quantidade grande de textos para postar todos os dias acabava sendo impossível realizar qualquer coisa “na rua”, e nem havia verba para isso. E usávamos as redes sociais para acompanhar personalidades do segmento.

Também usávamos fontes de jornais grandes, pontuando o que realmente importava para aquele público. Foi isso que o David chamou de “cosmovisão”, creio eu. Traduzir para o público evangélico o que estava acontecendo no mundo. Todos os assuntos de interesse para o site, o David me passava através de um lista no Google Docs, ali ficavam todos os temas das matérias que escreveria naquele dia, a medida que ia terminando, mandava para ele e ele mesmo postava no site.

Em nenhum momento inventei notícias. Nunca tivemos uma reunião de pauta, até porque o David não é jornalista. Não tem esse feeling. Não tínhamos nenhuma regra de denigrir A ou B, distorcer matéria sobre A ou B, defender A ou B. Isso não existe. Nunca existiu.

Da minha parte, sempre tratei de fazer o jornalismo cru. Isentão. Chapa-branca. Aconteceu isso, aquilo e aquilo outro. Sem opiniões pessoais. Sem colocar juízo de valor como “feio”, “bonito”, “legal”, “triste”…

Mas erros acontecem e a interpretação do leitor tem mais a ver com o que ele pensa, do que com o que realmente escrevemos. Uma vez escrevi “Igreja de Jesus Cristos dos Santos do Sétimo Dia”. Erro meu. Cabeça cheia, noites de insônia entre outros problemas que sempre tive. Troquei o nome da Igreja Mórmon sem querer, total falta de atenção, mas apareceu um fiel da igreja com um textão cheio de teoria da conspiração dizendo que o site tinha como objetivo denegrir a imagem da religião ao trocar o nome. Não tinha intensão alguma. Só errei. Erros acontecem. Não tinha nenhum pedido por parte do David para denegrir os mórmons, nem qualquer outra igreja.

Por falar em igreja, tivemos muitos problemas com a Igreja Universal do Reino de Deus. Com várias matérias negativas divulgadas pela grande imprensa, não deixávamos de noticiar essas questões também e o público sempre comentava que o Valdemiro Santiago estava nos patrocinando. Quando a Record divulgou a matéria sobre a fazenda, foram os féis da Mundial que vieram com teorias da conspiração dizendo que o Macedo nos pagava. Sem entrar em um consenso, logo deixaram de fazer afirmações absurdas. O Gospel Prime não é um site sustentado por igrejas.

Foram anos até que o David conseguiu o contato de um dos assessores da Universal. Só então pudemos ouvir o segundo lado antes de publicar uma matéria. Agora a Igreja Mundial fugia da gente. De mim, pra ser mais sincera. Por diversas vezes o assessor desligou o telefone na minha cara. Diversas mesmo!

 

Barriga x fake news

E como fazer o jornalismo sem ouvir o outro lado? Fazendo como TODOS fazem: publicando sem o segundo lado. Ainda mais em um veículo online que sobrevive de audiência. O imediatismo nos coloca em posições nada fáceis. É assim que acontecem as barrigas. E precisamos diferenciar o que é barriga do que é fake news.

Barriga no jorgão do jornalismo para uma notícia mal apurada. E, às vezes, nem foi que você não se esforçou para apurar, mas que a fonte não é boa o suficiente para falar sobre aquilo, ou que te usou para espalhar a visão dela sobre o assunto. Que jornalista nunca passou por isso?

Lembra do caso da Escola Base? Mães de alunos jurando de pé junto que seus filhos foram abusados, a escola fechou, uma destruição danada e era um notícia falsa. Não era culpa dos jornalistas (Escrevi um artigo na faculdade sobre isso). E aquele caso de uma entrevista que o Silvio Santos concedeu para uma revista de celebridades dizendo que estava morrendo? Quem iria desconfiar que ele estaria tirando sarro da profissional? Existem muitos outros casos assim na história do jornalismo e, com a internet, isso não e diferente.

Notícia falsa pra mim são esses blogs políticos que distorcem propositalmente o que seus adversários falam ou apenas inventam que eles falaram. Esses sites são patrocinados com dinheiro de partidos políticos e movimentos partidários com o objetivo de usar da emoção para promover o discurso de ódio contra seus oponentes. O Gospel Prime não faz isso. Ou pelo menos não fez enquanto estive por lá.

 

 


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