The Post é uma aula de jornalismo na prática

Compartilhe:

Em “The Post” Ben Bradlee (Tom Hanks) e Kat Graham (Meryl Streep), editores do The Washington Post, enfrentam um dilema comum nas redações de jornalismo quando recebemos documentos que podem incriminar alguém.

O filme trata de documentos secretos que foram divulgados mostrando os reais interesses dos Estados Unidos com a Guerra do Vietnã. O dilema do filme é sobre as relações entre Ben Bradlee e Kat Graham com pessoas do governo norte-americano, publicar detalhes daque estudo poderia comprometer essas relações.

Na minha pequena e humilde experiência nas redações, posso afirmar que dilemas como esse são comuns. Mas muitas vezes, os interesses das empresas de mídia acabam passando por cima do verdadeiro papel da imprensa que é servir ao público, não aos governantes/anunciantes.

Quantas vezes para não perder a verba de publicidade da Prefeitura/Estado/União uma matéria já deixou de ser publicada? Nos tempos de JP (posso falar porque o jornal não existe mais) já abafamos casos contra políticos porque ele mantinha financeiramente o jornal. Enquanto que outros políticos, que não tinha essa relação com o dono, sofria constantes ataques com documentos (assim como no filme) que poderiam custar-lhes o cargo.

Infelizmente, não é sempre que a imprensa cumpre seu papel. Não é sempre que a informação chega limpa aos leitores. Há interesses por trás, quer sejam financeiros ou políticos, se é que se pode separar dinheiro de política.

Em “The Post” as questões financeiras não entram no jogo, mas as relações pessoais. Tanto que o presidente em questão, com a publicação dos documentos, proibia o The Washington Post de voltar a cobrir eventos que aconteciam na Casa Branca.

Mas se fosse um filme voltado para a realidade brasileira, o discurso seria outro, pois as relações vão além de amizade. No lugar de proibir a cobertura de eventos, aqui se proíbe verbas de publicidade, faz secar a fonte do jornal/site, além das ameaças físicas…. o que torna tudo altamente perigoso (já fiquei trancada na redação por risco eminente de ataques criminosos por retaliação e olha que era um jornal minúsculo e regional).

Assistir esse filme é uma verdadeira aula de jornalismo, pois são dilemas que enfrentamos sempre, e as escolhas de publicar ou não fazemos constantemente ao longo da carreira. Me lembro da primeira reportagem que precisei fazer que era contrária à igreja que eu frequentava. Doeu, muitos me julgaram por divulgar aquilo, mas era o meu trabalho.

Também teve informações sobre líderes religiosos que não permitiram que eu publicasse, pois as relações (nesses casos eram totalmente afetivas) eram fortes de mais para os “editores”…

 

 


Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *